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'Novos autores est?o despontando e narrando o Brasil em sua diversidade e complexidade', diz autor de 'Torto Arado'

Autor de "Torto Arado",resultado da mega-sena do número livro premiado e com mais de 1 milh?o de cópias vendidas, Itamar Vieira Junior fez sua primeira participa??o no Festival Literário Internacional de Po?os de Caldas - Flipo?os, neste sábado (3), penúltimo dia do evento.

Antes da sua apresenta??o, o escritor conversou com o g1 Sul de Minas e falou sobre a suas obras, sobre o bom momento da literatura nacional e sobre a importancia da leitura.

Itamar faz parte de uma nova gera??o de escritores que têm recuperado o interesse dos leitores e alavancado a literatura nacional. Ele credita isso à diversidade e qualidade das obras que est?o sendo lan?adas.

1 de 4 Itamar Vieira Junior participou do Flipo?os 2025 — Foto: Igor Avelar/Flipo?os

Autor de "Torto Arado", livro premiado e com mais de 1 milh?o de cópias vendidas, Itamar Vieira Junior fez sua primeira participa??o no Festival Literário Internacional de Po?os de Caldas - Flipo?os, neste sábado (3), penúltimo dia do evento.

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Antes da sua apresenta??o, o escritor conversou com o g1 Sul de Minas e falou sobre a suas obras, sobre o bom momento da literatura nacional e sobre a importancia da leitura. Veja abaixo os destaques da entrevista:

O bom momento da literatura brasileira

Itamar faz parte de uma nova gera??o de escritores que têm recuperado o interesse dos leitores e alavancado a literatura nacional. Ele credita isso à diversidade e qualidade das obras que est?o sendo lan?adas.

“A gente tem vivido um bom momento na literatura brasileira porque os leitores têm abra?ado essa literatura e tem descoberto ela no seu valor, na sua qualidade. Jeferson Tenório fala que a gente tem vivido um movimento, uma espécie de primavera na literatura brasileira, com novos autores despontando e narrando o Brasil em sua diversidade e complexidade. Isso tem despertado o interesse dos leitores como há muito tempo n?o despertava. Ent?o é um momento muito especial, muito novo", afirmou.

Trajetória

2 de 4 Itamar Vieira Junior participou do Flipo?os 2025 — Foto: Fabiana Assis/g1

Itamar nasceu e cresceu em Salvador (BA). Ele conta que foi alfabetizado por Marlene, uma vizinha filha do verdureiro, e desde muito pequeno se interessou pelos livros.

“Quando eu descobri aquela magia da leitura, de ler um livro e adentrar novos mundos, descobrir novos universos, eu quis fazer aquilo e eu já fazia muito cedo", contou.

Seu interesse pela literatura, porém, n?o era bem visto pelos seus pais, que se preocupavam com o futuro do filho. Por isso, Itamar deixou o sonho de ser escritor de lado por um bom tempo.

"Quando eu tinha por volta de 9 anos, minha m?e achou as coisas que eu escrevia e ficou um pouco preocupada. Ela dizia que eu estava perdendo tempo. éramos de uma família de trabalhadores, pessoas que ganhavam a vida com muita dificuldade. Acho que todo pai fica apavorado até hoje, vai dizer ‘Meu Deus, eu vou ter que sustentar meu filho’. Naquele momento a literatura virou um segredo para mim."

Itamar conta que continuou a escrever, mas n?o pensava fazer da sua escrita um ofício. Ele foi para a faculdade, se graduou em Geografia, fez mestrado e passou em um concurso público. Somente mais de 20 anos depois da sua m?e achar os seus textos é que ele voltou a pensar em tornar públicas suas histórias.

"Por n?o existirem pessoas à nossa volta que escreviam, que viviam disso, n?o tinha referência. Eu lia autores que tinham morrido, achava que para ser autor, na minha cabe?a de crian?a, precisava ter morrido. Ent?o n?o era uma profiss?o. Aí eu segui outro caminho, mas a literatura sempre esteve no meu horizonte, era um hobby, algo de afeto, que nas horas vagas eu fazia, ler e escrever. Até que chegou um dia, eu já tinha 32 anos e eu já tinha escrito algumas coisas e disse: 'Agora eu vou tirar isso da gaveta e vou mandar para um concurso literário'".

O concurso rendeu sua primeira publica??o: o livro de conto "Dias", em 2012. Por meio de outro concurso, dessa vez em Portugal, ocorreu a publica??o de seu primeiro "Torto Arado", em 2019.

Nesse momento, Itamar já chegava a quatro livros publicados, mas mesmo assim teve dúvidas sobre sua carreira de escritor.

“Eu continuei trabalhando, veio a pandemia, n?o tinha o que fazer, o livro n?o tinha acontecido. Depois o livro foi acontecendo, come?aram a sair as tradu??es no exterior, muito convite, eu n?o conseguia aceitar tudo e aí teve um momento que eu disse: ‘Eu vou ter que pedir licen?a e experimentar viver disso por um tempo’”.

Quase seis anos depois de publicar seu grande sucesso, Itamar ainda n?o se desfez totalmente da antiga vida e até hoje mantém seu vínculo com o Instituto Nacional de Coloniza??o e Reforma Agrária (Incra) como funcionário, mesmo que licenciado e sem remunera??o.

“Porque eu ainda tenho minhas dúvidas, tenho meu pé no ch?o”, justifica.

Torto Arado

3 de 4 Torto Arado - Itamar Vieira Junior — Foto: Reprodu??o

Lan?ado em 2019, o romance "Torto Arado" se tornou um fen?meno na literatura nacional contemporanea. A história das irm?s Bibiana e Belonísia que vivem em condi??es de trabalho escravo contemporaneo em uma fazenda no sert?o da Chapada Diamantina vendeu 1 milh?o de cópias e apresentou Itamar Vieira Junior para o mundo.

A continua??o da saga “Salvar o Fogo”, lan?ado em 2023, vendeu 80 mil cópias no primeiro ano. Agora, Itamar Vieira Junior prepara a última história da trilogia.

Mas o caminho para chegar a esse sucesso n?o foi fácil. A obra foi reconhecida - e publicada - primeiro fora do Brasil.

"Eu mandei 'Torto Arado' para um concurso em Portugal, o prêmio literário LeYa. A gente concorre an?nimo, manda com pseud?nimo. S?o muitos candidatos, eles recebem mais de mil originais. Eu confesso que fiz um envio protocolar. Eu mandei porque n?o tinha uma editora no Brasil. Eu cheguei a falar com os editores pequenos dos meus livros anteriores, mas n?o tinha espa?o, n?o tinha interesse naquele momento. O livro ganhou o prêmio, foi publicado em Portugal e seis meses depois foi publicado no Brasil", contou o escritor.

Logo após a publica??o no Brasil veio a pandemia, mas que poderia ser um balde de água fria no lan?amento, na opini?o de Itamar, ajudou na repercuss?o do livro.

“O livro timidamente foi chegando aos aos leitores. Na pandemia eu fiquei muito disponível para quem lia o livro. Teve uma profus?o de forma??o de clubes de leitores on-line, as pessoas estavam ociosas, queriam se encontrar e se encontravam on-line e me chamavam, e eu participava com uma frequência muito grande. Acho que isso foi criando um boca-a-boca. Mesmo sem viajar, sem feira literária, sem circular, os leitores foram se identificando e foram lendo e divulgando a história. Quando chegou no fim de 2020, vieram os prêmios Jabuti e Oceanos. Aí o interesse explodiu, porque os veículos de comunica??o foram me entrevistar.”

"Torto Arado" já foi traduzido para mais de 30 idiomas e concorreu a prêmios no mundo todo, mas enquanto o escrevia, Itamar teve suas dúvidas se a história despertaria o interesse dos leitores.

“Eu imaginava se essa história, que é t?o simples, de uma família que vive numa fazenda ainda com resquícios da escravid?o, poderia despertar de interesse em um leitor que é cada vez mais urbano, mas ainda bem que eu estava equivocado. Eu tinha dúvidas sobre o interesse do leitor. Escrevi porque era o que eu queria escrever, n?o podia me trair nesse sentido. Mas tinha dúvida se haveria interesse na leitura. E o livro me mostrou justamente o contrário, porque os leitores abra?aram essa história. Mesmo n?o n?o tendo experimentado aquilo, acho que querem conhecer mais do Brasil.”

Responsabilidade em escrever

4 de 4 Itamar Vieira Junior diz que sente a responsabilidade de escrever, mas que segue fiel a sua verdade — Foto: Uendel Galter

Com o sucesso de "Torto Arado", Itamar Vieira Junior arrebanhou milhares de f?s pelo mundo todo. Ele diz que hoje tem desprendimento pela história que, em sua opini?o, já pertence aos seus leitores, mas reconhece que a fama lhe trouxe mais responsabilidades.

“ Eu acho que a gente com o tempo vai ficando mais rigoroso com a gente mesmo, vai ficando mais crítico com o que escreve. Eu converso com outros autores, por isso que eu estou falando isso. Cada vez eu fico mais exigente comigo mesmo. Isso demanda um retrabalho com o meu escrito. é muito provável que se eu escrevesse 'Torto Arado' hoje, o livro n?o fosse como aparece. Porque a gente amadurece e a gente muda."

Itamar conta que, quando "Torto Arado" ganhou vários prêmios, sentiu a press?o das expectativas dos leitores a ponto de ser acordado, quando viajava em um avi?o, por um leitor que perguntava quando sairia o próximo romance.

"Sou exigente. Eu escrevo, reescrevo. Se você me perguntar qual dos livros foi mais fácil escrever, dos romances, eu vou dizer o primeiro. Porque como n?o tinha expectativa nenhuma minha, a coisa fluiu melhor. Depois, além da expectativa dos leitores que ficam perguntando sobre a história, sobre o livro, há a minha expectativa também de apresentar sempre o melhor, e aí é mais difícil. O próximo é sempre mais difícil de escrever do que o primeiro."

Itamar diz que aprendeu a conviver com a press?o e procura tentar n?o se preocupar com as expectativas e se concentrar apenas em escrever suas obras com a sua verdade.

“Eu tento n?o me trair. Eu escrevo sobre aquilo que me pede para ser escrito. Eu n?o quero fazer concess?es nesse sentido. Porque me trair seria muito perigoso. Imagina você escrever algo que n?o é capaz de envolver a você, em primeiro lugar. Se n?o envolver você, é muito provável que n?o envolva o leitor, ent?o eu preciso ter esse envolvimento com a história. Eu preciso escrever sobre aquilo que tá gritando para ser escrito.”

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