Por que a fome persiste no Brasil mesmo com tanto alimento disponível?

Pesquisa chama a aten??o para a presen?a de plástico no mar e alerta para riscos à saúde e à pesca no Rio

Da Lagoa Rodrigo de Freitas às praias e ilhas da Baía de Guanabara,??oparaapresen?adeplásticonomarealertaparariscosàsaúdeeàcriador de roleta passando pelas praias oceanicas da cidade, o Rio de Janeiro convive diariamente com uma amea?a silenciosa: a polui??o por plásticos. Invisíveis a olho nu, os microplásticos e poluentes derivados est?o se acumulando nos ecossistemas marinhos e costeiros, afetando a vida de peixes, camar?es, moluscos e até mesmo trazendo riscos para a saúde da popula??o que consome esses alimentos. Um estudo inédito, desenvolvido pela bióloga e pesquisadora Raquel de Almeida F. Neves, do Departamento de Ecologia e Recursos Marinhos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), traz à tona a dimens?o desse problema ao analisar a contamina??o por plásticos em diferentes pontos do litoral fluminense. Aterro de Gramacho: local tem capacidade para acumular 23 milh?es de litros de chorume, evitando contamina??o do manguezal'Taycabana': Prefeitura do Rio insinua que Taylor Swift pode ser atra??o em Copacabana e gera rea??o O estudo, financiado pela Funda??o de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), combinou análises químicas, biológicas e ambientais, além de experimentos laboratoriais, para medir os impactos diretos desses poluentes sobre a fauna marinha e a cadeia alimentar. Coletas em diferentes cenários da costa As amostras foram coletadas em locais estratégicos: Lagoa Rodrigo de Freitas, ilhas e praias da Baía de Guanabara, praias oceanicas e também estuários no sul da Bahia. Foram recolhidos sedimentos (terra do fundo), água e organismos aquáticos como peixes, camar?es, siris, mexilh?es e ouri?os-do-mar — muitos deles de grande importancia para a pesca artesanal e para o consumo humano. Coleta de materiais plásticas nos oceanos do Rio — Foto: Ricardo Gomes/ Instituto Mar Urbano O objetivo era identificar contaminantes provenientes do plástico, como bisfenóis, ftalatos e outras substancias que permanecem no ambiente por anos. “Realizamos coletas simultaneas da água, sedimento e biota, o que permite entender o ciclo completo de contamina??o e o impacto nos recursos pesqueiros que s?o consumidos pela popula??o local”, explicou a Dra. Raquel de Almeida F. Neves. “As análises químicas foram complementadas por testes de toxicidade, para avaliarmos os efeitos diretos desses poluentes.” Ciência aplicada para proteger sociedade e ambiente A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, destacou a relevancia da pesquisa e o papel da institui??o em fomentar estudos que unem ciência básica e aplicada. “O projeto demonstra o compromisso da FAPERJ em apoiar pesquisas inovadoras que trazem benefícios diretos para a sociedade. A polui??o por plásticos é um problema global, mas projetos como este trazem solu??es e conhecimento para políticas públicas locais, contribuindo para a saúde dos ecossistemas e das pessoas”, afirmou. Métodos de alta tecnologia Para identificar e quantificar os microplásticos, a equipe utilizou técnicas sofisticadas como cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CGMS), espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) e μ-FTIR, que permite caracterizar os microplásticos. As análises também foram cruzadas com variáveis ambientais como temperatura, salinidade, pH, oxigênio dissolvido e nutrientes, medidos com sondas multiparamétricas e fluorímetros portáteis. Esse monitoramento integrado permitiu uma vis?o mais completa da situa??o dos ambientes amostrados. Do laboratório para a realidade ambiental Os testes laboratoriais reproduziram condi??es ambientais para medir a toxicidade dos poluentes em espécies marinhas e estuarinas. Foram avaliados efeitos agudos e cr?nicos, seguindo protocolos internacionais (ISO e EPA). — Os testes incluíram múltiplas concentra??es dos poluentes, permitindo calcular valores críticos como EC50 e LC50, que indicam a concentra??o na qual 50% dos organismos apresentam efeito tóxico ou morrem — detalha a pesquisadora. — Também aplicamos biomarcadores moleculares, celulares e comportamentais para identificar os efeitos em diferentes níveis biológicos. Entre os organismos mais suscetíveis estavam camar?es e peixes, essenciais tanto para a economia pesqueira quanto para a alimenta??o da popula??o. Contribui??es para a gest?o ambiental Entre os resultados do estudo est?o: a cria??o de indicadores ambientais e biológicos para monitorar a polui??o por plásticos;mapas detalhados que mostram as áreas mais críticas da costa;a avalia??o dos riscos para a saúde da fauna e para o consumo humano;a proposi??o de biomarcadores eficientes para monitorar a qualidade dos recursos pesqueiros;e a integra??o das comunidades locais, sobretudo os pescadores artesanais, no processo de conserva??o. — Nosso objetivo é que a pesquisa n?o fique restrita aos laboratórios — refor?a Raquel. — O engajamento dos pescadores e o diálogo com as escolas públicas s?o fundamentais para ampliar a conscientiza??o e promover a??es concretas de preserva??o. Ciência cidad? e educa??o ambiental O projeto também investiu em atividades de extens?o, com palestras abertas ao público em espa?os culturais do Rio, a??es educativas em escolas públicas e projetos de ciência cidad? envolvendo pescadores artesanais. — Queremos transformar conhecimento em a??o, sensibilizando a popula??o sobre os impactos dos plásticos nos ecossistemas e na saúde humana, e incentivando uma postura responsável e crítica diante do problema — conclui a pesquisadora. 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